quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ainda há tempo de deter o deserto

Desertificação atinge 80% de Cabrobó, mas educação ambiental e práticas agroecológicas podem conter avanço.

Jamille Nunes
Especial para o JC-Vale.
08.06.2009 06:06:00

As secas provocadas pelos longos períodos de estiagem não são as únicas preocupações da cidade de Cabrobó. A desertificação, considerada um dos mais graves problemas ambientais da região, está transformando a caatinga em deserto e já atingiu de forma acentuada cerca de 80% da área do município.
Segundo Iedo Bezerra Sá, pesquisador da Embrapa Semiárido, a atividade humana é uma das principais causas para o intenso processo de desertificação da cidade. "Durante anos foram adotadas práticas de manejo inadequadas que acabaram exaurindo o solo, por exemplo, muitos dos agricultores de sequeiro ainda realizam queimadas e criam grandes quantidades de caprinos e ovinos em áreas de tamanho insuficiente. A caatinga não consegue se recuperar, quando não é queimada, é devorada pelos animais", explica.

Ainda segundo o pesquisador, o fenômeno não está restrito apenas a Cabrobó. As cidades de Belém do São Francisco, Salgueiro, Santa Maria da Boa Vista e Curaçá (BA), também caminham para a desertificação. "O processo abrange diversos municípios da região, porém é em Cabrobó que encontramos 76,41% da área no nível acentuado de desertificação, 14,72% com grau de severo, 2,57% no nível moderado e 6,30% no nível baixo", pondera Iedo Bezerra.

A solução, para conter o avanço da desertificação, segundo o pesquisador, está na educação ambiental e na valorização de práticas agroecológicas. De acordo com a também pesquisadora da Embrapa Semiárido, Francislene Angelotti, é possível realizar o manejo adequado da caatinga garantindo a exploração dos recursos naturais de forma sustentável. "Devemos considerar formas de adaptação às mudanças climáticas, principalmente no que se refere à conservação dos recursos naturais, produtividade agrícola e qualidade de vida da população, evitando ações como retirada da cobertura vegetal, desmatamentos indiscriminados, cultivo nas nascentes e margens de rios e o manejo inadequado dos solos".

Segundo os pesquisadores, de todos os ambientes do Brasil, a região semiárida é a que apresenta a maior vulnerabilidade às mudanças climáticas no aspecto social, principalmente devido aos impactos negativos sobre os recursos hídricos e à agricultura de sequeiro.

A adoção de políticas públicas de desenvolvimento sustentável do Semiárido evitaria danos ainda maiores. "O cumprimento de leis ambientais é precário. O agricultor de sequeiro precisa do acompanhamento constante e adequado das atividades de extensão rural e isso não está sendo realizado", constata Bezerra.

Cinema com poucos recursos e muita paixão


Inspirados por cenários da caatinga, cineastas driblam dificuldades e
produzem longas


Jamille Nunes
Especial para o JC-Vale
Publicado em 15.06.2009

Nem só de produções milionárias vive a sétima arte. No Vale do São Francisco, cineastas da região transformam o sonho de fazer cinema em filme. A geografia ajuda, a região oferece um panorama sertanejo, ideal para aqueles que buscam imagens da caatinga nordestina, ou uma composição ribeirinha, margeada pelo Rio São Francisco.

A expansão do audiovisual regional pode ser percebida nas ruas. Todos os sábados, uma equipe de voluntários marca presença no bairro do Angary, em Juazeiro, para estudar e preparar o longa Nego D"Água – lenda ou realidade. São atores, técnicos e pessoas da comunidade que aceitaram o desafio proposto pelo diretor Flávio Henrique Fonseca, de transformar uma lenda ribeirinha em um longa-metragem.

Segundo o diretor, o filme pretende demonstrar os problemas ambientais no Rio São Francisco e as questões sociais da população do bairro Angary. “Quero contar a luta do povo ribeirinho através dos moradores do Angary, aquelas pessoas são lutadoras e vou utilizá-las como um espelho de todos os lugares por onde o rio passa”, complementa Flávio Henrique. Considerado de baixo orçamento para os padrões cinematográficos, aproximadamente R$ 500 mil reais, Nego d’Água – lenda ou realidade, ainda está na fase de pré-produção e conta com o apoio de parcerias para a realização dos trabalhos.

A mesma estratégia encontrada pelos diretores de Na quadrada das águas perdidas, dos diretores Vagner Miranda e Marcos Carvalho. O filme, que tem como único personagem o ator Mateus Nachtergaele, ainda não teve financiadores diretos. Até o momento todo o trabalho foi feito através de parcerias, como a concretizada com 72º Batalhão de Infantaria Motorizado (72º BIMTz). “Nosso filme é sobre a caatinga, por isso, conquistamos o exército para participar do projeto, o apoio do 72º BIMTz foi fundamental, eles colaboraram com alguns animais adestrados e até mesmo ensinando técnicas utilizadas na caatinga”, explica o diretor Vagner Miranda, que pela primeira vez experimentou trabalhar com a linguagem cinematográfica.

Na quadrada das águas perdidas deverá ficar pronto no mês de dezembro e terá como diferencial a preocupação com a responsabilidade ambiental. “Estamos calculando o que foi gasto com a emissão de carbono na preparação do filme para fazermos o replantio e conquistar o selo Prima Carbono Neutralizado, além disso, os extras serão um documentário sobre a caatinga, com imagens, nomes científicos e usos educativos das plantas”, ressalta.
Festivais incentivam produção

Além da produção de alguns longas-metragens, o audiovisual na região conta com festivais culturais dedicados ao cinema, que entusiasmam profissionais e amadores para a realização de curtas, movimentando o cenário cinematográfico.

O Vale Curtas, por exemplo, organizado pela Associação Cultural Artística e Social Raízes, todos os anos promove mostras competitivas e paralelas de cinema em Juazeiro e Petrolina. Segundo o coordenador do evento, Chico Egídio, a importância dos festivais consiste na oportunidade para que todos possam mostrar seu trabalho. “A região tem tradição de ser palco para produções nacionais, no Vale Curtas estimulamos o desenvolvimento e a produção audiovisual local.”

As universidades também funcionam como espaço de difusão de artes audiovisuais. Na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), por exemplo, há três anos é realizado o Festvideo – Festival de Vídeo Universitário do Vale do São Francisco, que oferece oficinas de roteiro, captura e edição de imagens, além de realizar uma mostra competitiva universitária de curtas. Na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), estudantes de comunicação social todos os anos realizam o Curta na Uneb, um festival de curtas onde são exibidos os vídeos realizados pelos próprios alunos.

A estudante Érica Daiane da Costa, acredita no potencial estimulante dos festivais universitários de cinema. “Nos festivais podemos mostrar o trabalho da gente, até quem nunca teve interesse em fazer um filme acaba contagiado pela possibilidade de participar das mostras e dar visibilidade às produções”.

Experiente, ela participou das últimas mostras competitivas do Vale Curtas, e atualmente faz a oficina de edição promovida pelo Festvídeo. O objetivo de Érica Daiane é utilizar o conhecimento adquirido para melhorar a qualidade técnica de suas produções. “O laboratório e as oficinas são muito bons, já estou até pensando em produzir outro vídeo para a mostra competitiva que acontecerá em agosto. Por enquanto, é apenas uma idéia que ainda vai ser amadurecida”, planeja.

Inclusão através da arte

Projeto Social beneficia 65 alunos portadores de necessidades especiais das cidades de Petrolina e Sobradinho
Jamille Nunes
Especial para o JC-Vale
A partir de um convite para trabalhar com portadores de necessidades especiais, o artesão Joseilton Barbosa, conhecido como Pintor, tomou uma decisão: doar seu tempo e conhecimento para trabalho solidário em projetos sociais. A oportunidade chegou como um desafio para o artesão, que uma vez por semana deixa o trabalho de transformar troncos de madeira em arte na Oficina do Artesão Mestre Quincas, em Petrolina, para ensinar os deficientes a pintar.
O projeto Oficina Arte de Ser Especial foi idealizado pela graduanda em pedagogia Nílmann Gomes e pela professora Sandra Leite e tem como objetivo auxiliar alunos com necessidades especiais a desenvolverem suas habilidades através da arte. O trabalho abrange a Escola Estadual Professora Adelina Almeida, em Petrolina, e a Escola Municipal Geraldo Francisco da Silva, na cidade de Sobradinho. Ao todo, 65 alunos portadores de diversas necessidades especiais são beneficiados com as atividades coordenadas por 14 professoras monitoras, cinco intérpretes, quatro coordenadoras e oficineiros que trabalham com arte nas duas cidades.

A experiência de trabalhar com alunos especiais surpreende os artesãos. Joseilton Barbosa optou por ensinar pintura e a cada encontro vive novas emoções. “Esse dom foi Deus quem me deu. Não sei ensinar como um professor que estudou, entrego os pincéis e vou logo para a pintura. Os alunos me surpreendem, uns têm dificuldades com a coordenação motora, mas dá para perceber o interesse e a ansiedade para tocar nas tintas”, afirmou.

Segundo Nilmann Gomes, o sucesso da experiência ressalta a importância de dar continuidade às atividades, mas o andamento do projeto necessita do apoio de novos colaboradores. “Desde maio realizamos oficinas experimentais nas duas escolas com o intuito de lançarmos o projeto no mês de agosto e darmos continuidade por 12 meses, mas para isso precisamos de parceiros que colaborem com o andamento das nossas atividades”, ressalta.

Para José Dino de Oliveira, pai do aluno Laerte de Oliveira, a experiência artística tem trazido grandes benefícios para o filho. Entusiasta e participativo, Dino vibra com as conquistas do aluno e o estimula nas atividades. “Qualquer coisa que auxilie meu filho merece minha atenção, ele despertou pelo trabalho e sempre me diz que quer pintar. Deus nos deu uma sublime missão para cumprir e não podemos fracassar”, disse o pai.

Através da solidariedade de Joseilton Barbosa, o projeto pretende realizar uma mostra com trabalho dos alunos. A data do evento ainda não foi definida, mas para coordenação será o momento importante de promover o estímulo à arte e a inclusão social das pessoas com necessidades especiais. “Muita gente acredita que tempo é ouro e doar seu tempo sem cobrar nada é perder esse ouro. Penso diferente, é uma forma de me sentir útil e não de perder tempo”, afirma o artesão.

» Contatos: Sandra Leite (74) 8813-8848, Nílmann Gomes (87) 8814-6554 ou projetodeintercambio@gmail.com