Inspirados por cenários da caatinga, cineastas driblam dificuldades e
produzem longas
Jamille Nunes
Especial para o JC-Vale
Especial para o JC-Vale
Publicado em 15.06.2009
Nem só de produções milionárias vive a sétima arte. No Vale do São Francisco, cineastas da região transformam o sonho de fazer cinema em filme. A geografia ajuda, a região oferece um panorama sertanejo, ideal para aqueles que buscam imagens da caatinga nordestina, ou uma composição ribeirinha, margeada pelo Rio São Francisco.
A expansão do audiovisual regional pode ser percebida nas ruas. Todos os sábados, uma equipe de voluntários marca presença no bairro do Angary, em Juazeiro, para estudar e preparar o longa Nego D"Água – lenda ou realidade. São atores, técnicos e pessoas da comunidade que aceitaram o desafio proposto pelo diretor Flávio Henrique Fonseca, de transformar uma lenda ribeirinha em um longa-metragem.
Segundo o diretor, o filme pretende demonstrar os problemas ambientais no Rio São Francisco e as questões sociais da população do bairro Angary. “Quero contar a luta do povo ribeirinho através dos moradores do Angary, aquelas pessoas são lutadoras e vou utilizá-las como um espelho de todos os lugares por onde o rio passa”, complementa Flávio Henrique. Considerado de baixo orçamento para os padrões cinematográficos, aproximadamente R$ 500 mil reais, Nego d’Água – lenda ou realidade, ainda está na fase de pré-produção e conta com o apoio de parcerias para a realização dos trabalhos.
A mesma estratégia encontrada pelos diretores de Na quadrada das águas perdidas, dos diretores Vagner Miranda e Marcos Carvalho. O filme, que tem como único personagem o ator Mateus Nachtergaele, ainda não teve financiadores diretos. Até o momento todo o trabalho foi feito através de parcerias, como a concretizada com 72º Batalhão de Infantaria Motorizado (72º BIMTz). “Nosso filme é sobre a caatinga, por isso, conquistamos o exército para participar do projeto, o apoio do 72º BIMTz foi fundamental, eles colaboraram com alguns animais adestrados e até mesmo ensinando técnicas utilizadas na caatinga”, explica o diretor Vagner Miranda, que pela primeira vez experimentou trabalhar com a linguagem cinematográfica.
Na quadrada das águas perdidas deverá ficar pronto no mês de dezembro e terá como diferencial a preocupação com a responsabilidade ambiental. “Estamos calculando o que foi gasto com a emissão de carbono na preparação do filme para fazermos o replantio e conquistar o selo Prima Carbono Neutralizado, além disso, os extras serão um documentário sobre a caatinga, com imagens, nomes científicos e usos educativos das plantas”, ressalta.
Festivais incentivam produção
Além da produção de alguns longas-metragens, o audiovisual na região conta com festivais culturais dedicados ao cinema, que entusiasmam profissionais e amadores para a realização de curtas, movimentando o cenário cinematográfico.
O Vale Curtas, por exemplo, organizado pela Associação Cultural Artística e Social Raízes, todos os anos promove mostras competitivas e paralelas de cinema em Juazeiro e Petrolina. Segundo o coordenador do evento, Chico Egídio, a importância dos festivais consiste na oportunidade para que todos possam mostrar seu trabalho. “A região tem tradição de ser palco para produções nacionais, no Vale Curtas estimulamos o desenvolvimento e a produção audiovisual local.”
As universidades também funcionam como espaço de difusão de artes audiovisuais. Na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), por exemplo, há três anos é realizado o Festvideo – Festival de Vídeo Universitário do Vale do São Francisco, que oferece oficinas de roteiro, captura e edição de imagens, além de realizar uma mostra competitiva universitária de curtas. Na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), estudantes de comunicação social todos os anos realizam o Curta na Uneb, um festival de curtas onde são exibidos os vídeos realizados pelos próprios alunos.
A estudante Érica Daiane da Costa, acredita no potencial estimulante dos festivais universitários de cinema. “Nos festivais podemos mostrar o trabalho da gente, até quem nunca teve interesse em fazer um filme acaba contagiado pela possibilidade de participar das mostras e dar visibilidade às produções”.
Experiente, ela participou das últimas mostras competitivas do Vale Curtas, e atualmente faz a oficina de edição promovida pelo Festvídeo. O objetivo de Érica Daiane é utilizar o conhecimento adquirido para melhorar a qualidade técnica de suas produções. “O laboratório e as oficinas são muito bons, já estou até pensando em produzir outro vídeo para a mostra competitiva que acontecerá em agosto. Por enquanto, é apenas uma idéia que ainda vai ser amadurecida”, planeja.
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